Era uma festa de carnaval de 1975.
Nos salões do América Futebol Clube, o uísque corria solto na mesa do bloco. No bolso, um vidro de Reativan; na bolsa, um tubo de lança Universitário (Argentina) e um lenço ou um tufo de algodão, para ingerir pelos lábios, ao invés de cheirar.
Lá pelas três horas da madrugada, Chico, já muito embriagado, resolveu ir embora: estava exausto e completamente desorientado. Antes de sair para pegar seu Jeep sem capota, resolveu passar no banheiro e, no corredor do clube, encontra uma jornalista.
– Aonde vai uma hora dessas? Perguntou ela.
- Mijar. E depois, vou pra casa, que estou morto.
- Dá uma carona? Também quero ir pra casa.
- Tudo bem, ele respondeu.
Saíram do América, entraram no Jeep e ela foi logo insinuando:
- Por que não vamos na estrada de Ponta Negra comer um sanduíche ou talvez tomar um caldo?
Seguiram para a estrada de Ponta Negra e, no início da via que hoje se chama Avenida Roberto Freire, tinha uma placa luminosa, que Chico, tão bêbado, nem prestou atenção o que era e achou que poderia ser a lanchonete.
Era “O corujão”, o segundo motel de Natal, depois do Jóia, na Ribeira.
Meio intrigado, mas completamente bêbado, Chico resolveu entrar. Nem caldo, nem sanduíche, nada. Só teve tempo de arrancar a fantasia e cair na cama como uma pedra e adormecer.
Algumas horas mais tarde, por volta das 10 da manhã, ele acorda com uma tremenda dor de cabeça e sem saber onde estava.
Lembrou-se de um amigo, Mimoso, que era gordinho e muito branco, para telefonar e saber que lugar era aquele. Olhou para o teto, tinha uma lâmpada vermelha muito fraquinha que deixava tudo na penumbra; olhou para o chão e viu um carpete surrado e cheio de marcas, de queimaduras de cigarros jogados.
Ficou intrigado, tentando adivinhar se ali era o inferno ou um cabaré, quando do seu lado alguém se moveu. Olhou repentinamente e viu aquele corpo branco e roliço. Imediatamente, imaginou:
- Será que comi Mimoso?
Virou-se completamente pra conferir e viu que era a jornalista, que foi logo dizendo:
- Oi, amor, bom dia!
- O que estamos fazendo aqui, perguntou ele, emputecido.
- Até agora nada, respondeu ela, insinuando-se.
Ele retrucou:
- Graças a Deus!
Ligou para a recepção, pediu um copo de leite gelado, dois Engovs e ainda ouviu da moça da recepção que o conhecia :
- Você, hein? Comeu a gordinha!
Ele desligou o telefone e disse:
- É foda mesmo! Vamos embora!
Frei Carmelo