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Léo chegou em casa como de costume: embriagado. Disse a amada que não iria, mas terminou indo ao Bar de Nazaré para uma prosa com Seu Milton
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Seu Milton
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e uns poucos tragos de Montila com coca-cola.
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- Tenho que aproveitar esse Pratodomundo para consolidar minha candidatura à sucessão de Dunga. Vou ter que dar o golpe em Alex. Mas como?
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Léo e Alex
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Poucas horas antes, havia jurado fidelidade à chapa Sempre Samba e confirmara sua presença na reunião de sexta no Bardalos, quando as primeiras estratégias de luta seriam traçadas.
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A condição de secretário não lhe agradava. Deixara isso explícito logo que Alex se ausentou do etílico referencial ponto de boemia da Cel. Cascudo, centro de Natal, e ficara a divagar frases acometidas de coma alcoólica aos que ficaram, notadamente o adjunto da chapa, lambe-lambe Hugo Macedo e; outros de só menos importância, como o jornalista Luciano de Almeida, pintor Franklin Serrão e o atual executivo, Eduardo Alexandre.
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Hugo Macedo
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- Posso contar com Chagas e Orf, mas Dunga não vai proclamar voto para a minha chapa nem vai fazer campanha. É um fela ingrato. Depois de tanto que eu o ajudei...
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Precisava montar a chapa. Conseqüentemente, de nomes. Precisava de referenciais becodalamenses.
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Havia de procurar secretário, tesoureiro e diretor cultural melhores que os postos pelas duas chapas já lançadas. E o seu adjunto deveria ser alguém de muito prestígio ou poder de atuação para somar realizações e convencimento aos eleitores.
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Dorian Lima
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- Dorian, candidato a diretor cultural da chapa de Bira, é um tira-voto. Melhor não dizer nada e deixar ele lá, Bira cantando e seduzindo os corações, e ele, Dorian, a tarde toda em Nazaré, a desacatar o primeiro que ouse sentar em suas adjacências. Venâncio, o homem da cultura da chapa de Alex, a minha atual chapa, é, pelo menos, mais discreto que Dorian: bebe menos. Mas também quando bebe... Mas quem não bebe?
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O dilema era demais. Caiu no sono e amanheceu com a pinimba na cabeça.
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- E se eu convido Plínio para a minha direção cultural?
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Franklin Serrão
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Nem se perguntou e lembrou a marchinha silviosanteana entoada por Serrão sempre que Plínio chega esbaforido, 20:30h, em Nazaré, de bicicleta, para dois dedos de ‘prosa passando’:
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- Plínio Sanderson vem aí! Param, pam, pam, pam, pam! Plínio Sanderson vem aí!
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E desistiu de fazer a Plínio o convite para a sua assessoria cultural.
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- Quem sabe Dickson Meméia? Zé Dias? Marcelo Veni? Lula Belmont? São quatro produtores culturais de peso...
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E veio a grande idéia:
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- Faço ver que o Estatuto da Samba está precisando de umas revisões e incluímos mais diretores culturais na gestão, mais secretários, mais tesoureiros, mais adjuntos, que é isso que está faltando à Samba, e aí eu ganho a parada com Bira e Alex de adjuntos.
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Foi para a Câmara caminhando e, no caminho, veio a lembrança e a musiquinha de Serrão:
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- Plínio Sanderson vem aí! Param, pam, pam, pam, pam!
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Plínio Sanderson
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Encabulado consigo, mudou o pensamento para outras composições:
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- Na secretaria, posso ter Barbinha, da chapa de Bira e... E... E... Quem da chapa de Alex, se era eu o candidato e não sou mais, sou o presidente do Beco? Tenho que encontrar outro secretário...
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E continuou matutando quem convidaria para a Tesouraria.
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- Chagas? Orf? Karl? Cid Augusto? Quatro tesoureiros está bom? Não seria melhor Chagas como terceiro adjunto? E não tem mulher nessa chapa? E a Racha Samba, o que vai dizer? Doutora Meire vai me cair de pau! E as outras minorias? Os comunistas do Beco, o que dirão?
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E desatou a pensar. Pensou, pensou, mudou de caminho, tomou o rumo do centro da cidade e foi, sem tomar nenhuma, direto ao banheiro do Bar de Nazaré, onde pensou no início do discurso de mais tarde.
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Chagas, Bira, Dunga, Alex e Léo
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- Aqui, na solidão e na inviolabilidade do banheiro de Nazaré, construo obras primas que chegam ao mundo... Aqui, projeto-me froidianamente em devaneios tritentaculares que despertam assuntos e desejos nos quatro cantos do Alembeco de Lula Augusto... Por que, pai, devo ser amaldiçoado por desejos de poderes vãos como os da Samba?
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E saiu assoviando:
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- Param, pam, pam, pam, pam. Param, pam, pam, pam, pam!
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Edgar Allan Pôla