Encapuzado de Marcelus Bob
Alexandro Gurgel
Marcelus Bob
Cartaz dos 10 Anos da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências.
Ilustração: Marcelus Bob
Badalada revista de arte alemã, a Deutsche Neue Blätter elegeu os 100 maiores artistas de vanguarda do mundo.
Da América Latina foram apenas três: um do Chile e dois do Brasil — um paulista e outro — orgulhem-se! – potiguar.
Foi nada menos que o pintor Marcelus Bob, que saiu ao lado de um dos ícones da grande pintura alemã: Oskar Kokoschka.
É a glória!!!
Eliana Lima
Jornal de Hoje, 1 de junho de 2005
Sobre um Marcelino William
Hugo Macedo
O meu primeiro contato com Marcelus Bob marcou definitivamente sua vida.
Estávamos iniciando o movimento da Galeria do Povo, na Praia dos Artistas, Natal, e a cidade pulsava arte.
Na Fundação José Augusto foram criados dois prêmios de pintura: um para iniciantes, o Newton Navarro e; outro aberto, Prêmio Governador do Estado.
O ganhador da primeira versão do Prêmio Governador do Estado, para nosso orgulho, havia nascido para a vida artística na Galeria do Povo. Francisco de Assis Marinho, um menino que desenhava retratos pela cidade e que ao pé do muro passou a conhecer o que era arte e a se enturmar com quem a fazia. Exímio desenhista, Assis logo se tornou referência da pintura norte-riograndense.
Na abertura da exposição, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, uma festa. Muita gente reunida e eu diante de um quadro de um artista que eu não conhecia: Marcelus Bob.
Perguntei a amigos de quem se tratava até que alguém o trouxe a minha presença.
— Marcelo, esses seus quadros vão fazer o maior sucesso na Europa, eu disse para ele.
Bob era funcionário da regional do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal, o Ibama de hoje.
No outro dia, ao chegar à repartição, ele foi direto ao departamento de pessoal e pediu demissão.
A família, os amigos, entraram em desespero.
— Como pode, Marcelo, emprego federal, garantia de bom salário para o resto da vida, e você joga tudo fora? Está louco? Pirou, foi?
Marcelino William de Farias cedia ali sua identidade para o artista que nascia.
A vida tornou-se difícil, mas Marcelus Bob nunca mais deixou suas tintas, telas e cavaletes por nada.
Passou, então, a deixar sua marca pela cidade, pintando encapuzados em paredes.
Pintura mórbida, pesada, ele começou a retratar a vida simples de seu povo de Mãe Luiza, bairro pobre da cidade. Botecos, violões, mulheres, sinucas, balcão, gato e cachorro, sempre.
Arte maldita de vera.
Mas também passou a registrar em grande estilo a cidade do Natal, com murais que traziam as marcas da cidade de hoje e de sempre: o forte, o farol, as dunas, a igreja do galo, o galo.
E pintou o casario pobre e pipas que encheram de luzes suas pinturas. E registrou o folclore, pintando bois e pastorinhas, jogos infantis.
Bob é também apaixonado por música. Rock pesado. E toca guitarra e montou uma banda que foi o grande sucesso da vanguarda musical do IV Festival de Artes do Natal, na Fortaleza dos Reis Magos, 1982: Grupo Escolar.
Pena que poucos viram e ouviram: já era mais de 4:00 horas da manhã.
Artista solitário, não se protegeu jamais em grupos de fáceis elogios. E os prêmios vieram e veio um reconhecimento frágil, sem sustentação.
Estar hoje entre os 100 maiores pintores de vanguarda do mundo é realmente, para nós que fazemos arte em Natal, motivo de grande orgulho.
Que essa valorização se transforme também em moedas e dê a Marcelino William tudo e muito mais ainda o que a vida despojada lhe negou depois que assumiu ser o Marcelus Bob que é hoje.
O Beco da Lama se orgulha desse reconhecimento, sim. E, aqui, o abraça e felicita pela conquista.
Eduardo Alexandre
Hugo Macedo
Pintura urbana de Marcelus Bob
Parede lateral do Museu Café Filho, rua Cel. Cascudo