Era sobre o branco imenso
— dos lençóis e o que vestias —
que eu olhava os teus olhos
e os teus olhos me olhavam
De tal forma eu te mirava
de tal forma tu me vias
que quanto mais eu te olhava
mais vontade em mim havia
de olhar mais nos teus olhos
os olhos teus que me viam
E tu a mirar-me os olhos
e os olhos meus te mirando
os teus nos meus olhos vendo
meu olhar todo te olhando
E eu te olhava e em mim tu vias
que o mesmo que eu via, olhavas
Olhava-te tanto e tanto
e em mesmo tanto me olhavas
que mais nada os olhos viam
além dos olhos olhados
e de olhar tanto e amiúde
na completude do olhar
eu te vi na infinitude
do meu instante e lugar
E tu a me olhar nos olhos
os olhos meus de te olhar
Antoniel Campos
ADORÁVEL (frag. 01)
sobre o instante que te tenho
aquele em que a mim não me possuo
que dizer?
quem sou quando não meu e em senhorio do teu ser?
o quanto te possuo
se de mim não me sei dono?
e o que digo da impressão duradoura de querer-te?
e por que tantas perguntas se as respostas já as sei?
tu: o que pensas faço lei
o que importa é isso: ter-te
e o que sou digo abandono
real acaso mito
se és tu o meu desejo, tu és única
e nada digo a mais
mas que és única, repito.
Antoniel Campos