quando todos tudo ao mesmo tempo descobrimos,
e nós, que já não éramos adolescentes,
deixávamos que os corações desembestassem.
éramos muitos, de vários bairros da cidade,
mas sabíamos do endereço de cada um,
dos horários de todos nós.
e nos preocupávamos uns com os outros.
era tudo novo para nós e sabíamos disso.
a cada descoberta, a partilha.
quantas vezes não trocamos nossas lágrimas...
e tantas, o sorriso...
em meio à turma, elegíamos nossas preferências,
mas éramos unos, um em todos, todos em um.
dos mais experientes, bebíamos os conselhos,
ouvíamos o caminho a ser seguido.
aos que chegavam, dispúnhamos o que já aprendêramos.
tudo era alegria.
as desavenças só vinham confirmar a regra, mas passavam.
se um se afastava, todos iam à sua busca.
e hoje, passado décadas em poucos anos, não somos mais assim.
endurecemos e, pior, envelhecemos.
envelhecemos não na idade.
essa, indefectível.
mas na vontade, no gesto, no cuidado com o outro.
nos distanciamos e fomos esquecendo cada um de cada um.
hoje, quando nos encontramos, ainda trazemos o sorriso no rosto,
mas não sorrimos mais lá dentro.
nem das coisas típicas do começo.
é tudo distância e é tudo bom do jeito que está.
parece que não éramos o que éramos.
e é difícil sermos assim,
não é bom do jeito que está coisa nenhuma.
mas é assim que estamos e é assim que é.
o duro é sabermos isso: nada será como antes.
e disso todos nós sabemos.
Antoniel Campos