houve um tempo em que desamanhecia e a noite se estendia para além da madrugada, enquanto perdurassem as palavras que se travestiam da palavra amor. houve um tempo em que todas as palavras — casa, gato, faca, mão — queriam dizer desejo: te quero. e as estrelas preguiçosas retardavam a caminhada, ofuscando o sol. passou esse tempo. partiram as estrelas. mas as palavras, imbuídas do sentimento do eterno, permanecem. e ainda brincam sob a pele quando se faz longa a madrugada. quem pensou serem efêmeras as palavras?
Márcia Maia