Noite. Cidade. Centro. Periferia. Tomo um banho de lua e caio na quebrada da rua. Qualquer carinho porreta venha me valer. Mina paquera. Brotos. Brotinhos de bambu gostosos pra xuxu. Garotos meets garotos. Taxi-girl. Gal. Tal qual nada igual.
Tédio. Amor.
Prazer.
Na contramão da cidade qualquer carinho seduz? Brilho da noite dionisíaca. Fogo.
O anjo terrível do jardim das delícias, zarpou, tomou o trem das onze ou foi atiçar o fogo de outras paisagens da cidade. Ninguém quanto. Alguém poderia ser igual? Como poesia, um achado genial. Poema visual totem total.
Tiros avulsos do seu olhar de laser, me deixam confuso. Dândi suburbano num passo de trembala, entre um cigarro e outro, o olhar incisivo e distante, o seu olhar paralisante, num flerte-míssil porém constante. Conheço essa marca, o que ela carrega em si. Mas quero tudo você para mim. Embora os desacertos desse amor-polaróide acabe dando certo num revezamento tesudo, acasos poéticos, rolando muito bem nas ondas, fios das gramas, no marrom da areia, sacudindo a mesquinhez da poeira dos dias.
Desacertos há.
Num abalroamento de corpos numa esquina do congestionado trânsito de gente do centro da cidade, nesse esbarra em você, é que eu te amo, romance-cilada que com tantos entrementes, não tem fim.
Meu romance barato é um barato. Meu romance. Escrevivência. Sedução.
Galáxia enamorada. Galáxia in the sky with diamonds. Translucidez. Delírio urbano. Alegórica satisfação.
Stephen Dedalus Morrison mora ao meu lado e sempre me sussurra suas canções. Eu dou férias a Morrison e ouço os seus lamentos chapantes. The boy with the thorn in his side. How soon is now? Acredito mais ainda hoje em poesia, quando ele me diz:
"Há um clube, se você quiser ir
Você pode encontrar alguém que te ama de verdade
Por isso você vai e fica sozinho
E vai embora sozinho
E volta para casa e chora
E tem vontade de morrer."
Acabou-se a idade do Working Class Hero. Os heróis-pós-pop são todos pequeno-burgueses, não sonham, deliram. São gângsteres apaixonados pela prostituta noite no desequilíbrio lindo do caos urbano. Tem no coração o lirismo do aço e gritam suavemente canções que fariam Rimbaud chorar.
In Temporada de Ingênios, João da RuaNossa Editora/Timbredições, 1986